“Então você pensa que está em crise: tudo que faz é uma porcaria. É um artista “meia-boca”. Como Palhaço, é o mais sem graça do mundo!”

Por que chegamos a esse ponto? Estou falando como artista.
Quem nunca pensou, (mesmo estando num bom momento), que não passa de um nada? Você busca soluções para tentar corrigir um erro que nem sabe se existe.
Para um Palhaço, o maior reconhecimento que pode existir é o riso. É ali que passamos nossa “mensagem”. É ali que abrimos portas. É ali que convidamos as pessoas a entrarem em nosso mundo: “O Fantastico mundo idiota do Palhaço!”
Ficar um tempo perdido não é ruim.
Ficar um tempo sem respostas não é ruim.
Acostumar-se a isso, é péssimo.
Criei o “CIRCO DE UM HOMEM SO” no Rio de Janeiro. Saía para as ruas no começo sem nada: sem som, sem microfone, sem tapete, sem estrutura de equilibrio… Sem nada mesmo.
Meu numero era subir nos postes de luz da praia de Copacabana. Comecei a ficar conhecido e querer mais. Querer poder dar mais ao publico. Um segredo aos artistas iniciantes: no começo, se doe por completo. Seja 257% de energia com e para o publico. Depois, bem depois, você aprenderá a dosar isso.
Querer poder dar mais, para mim significa trabalhar sempre com a excelência e perfeição. Não aprecio o “mais ou menos”. Mas, às vezes, precisamos estar no “mais ou menos” para entender nosso objetivo enquanto seres humanos e artistas.
Um espetaculo é como uma criança: ele nasce e no começo depende de você para tudo: para aprender a falar, caminhar, “comer”… Só que ele (o espetaculo) tem vida própria e cresce. Cabe ao artista-criador estar com os ouvidos bem abertos para escutar o que ele tem a dizer. O tempo todo!
No começo tudo é medo e apreensão. Depois descobertas e ansiedade. Ai vem o conforto, afinal você ja sabe onde está pisando. Por fim (a parte mais dificil), recriar a mesma emoçao sentida do começo dia após dia. Às vezes ano após ano. Essa é uma das tarefas mais difíceis.
Estar atento pode te dar coisas maravilhosas. Lembre-se: aprendemos no processo de criação. Não importa o resultado, importa o caminho que levei para chegar até la.
Fiz mais de mil espetaculos com o titulo “THE ONE MAN CIRCUS”. Talvez a mesma quantidade com o titulo “O CIRCO DE UM HOMEM SO”. Em ambos, o objetivo era o mesmo: buscar a excelência e fazer as pessoas saírem de suas vidas para entrar no “Fantastico mundo idiota do Palhaço MILHO BAUNILHA” mesmo que por alguns segundos.
Consegui com sucesso muitas vezes. Fracassei outras “muitas”. O que posso dizer até aqui? Estou apenas começando a entender como funciona a rua. Ela é cruel. Ela é magnifica. Ela é triste. Ela é alegre.
Ja diria Caetano Martins: “não existe publico ruim. Existem atores que não chegam la”.
Na minha simples forma de olhar o mundo, com “meu nariz vermelho que nunca sai do rosto”, entendo que nunca é tarde para mudar. Que um espetáculo, por mais perfeito que esteja para os outros, vale a pena ser repensado. Para agradar ainda mais o publico. Ele merece. Afinal, não seriamos nada se o Publico não estivesse conosco.
Estou mudando o espetaculo porque desejo muito alcançar, mais uma vez, uma melhora depois dessa tempestade de auto-criticas que só me fizeram bem.
Espero que, se você estiver passando pelo mesmo momento que eu, lembre-se: você não esta sozinho nessa. Estamos juntos. E acredite: vai passar. Continue a trabalhar, esse é o segredo para nunca estagnar-se. Se jogue. Acredite.
Se você ja passou por esse momento, então, acredite: uma hora ele vai voltar. Esteja preparado para trabalhar a cabeça. Às vezes você irá chorar. No final entenderá que foi ótimo. Simplesmente ótimo.
Artista sem crise é estagnado.
Artista com excesso de crise, é exagerado.
Artista que não sabe o que é crise, é alienado.
Artista que quer ter uma crise, é enjoado.