4. Aceitando o seu nivel técnico e artìstico

” Você não é. Você està.”

 

Saindo da “Féria de Nîmes”, pude comprovar que algo estava diferente. Quero dizer que tinha encontrado uma maneira diferenciada e adequada de trabalhar e me sentir bem. Nunca pensei em “quero ganhar dinheiro”. Sempre acreditei que isso [a grana] seria consequência do meu trabalho.

Como ja estava hà mais de 2 anos na labuta, me perguntava qual seria o segredo para ser um daqueles artistas que conseguiam ficar até uma hora com um pùblico enorme ao seu redor. Um publico que não “arredava o pé” de jeito nenhum.

Publicidade para a França com foto de uma performance de Mastro Chinês no Circo Roda Brasil

Em 2010 cheguei a Paris cheio de sonhos e esperanças.

Trabalhei como um  condenado: ia para a rua apresentar meu espetàculo todos os dias. Ganhava bastante dinheiro, mas o dispensava com a mesma rapidez que ganhava: moradia, alimentação e investimentos para o espetaculo.

Sempre, sempre pensei no espetaculo primeiro. Era meu ganha pão. Ou melhor, é meu ganha pão. Ao contrario de muitos (e não todos, aqui incluo donos de circo e cias de teatro), se eu tiver que comprar alguma coisa para um espetaculo, mesmo que eu não và usar no momento, não pensarei duas vezes. Invisto sempre que posso e não posso. Ja deixei de comer para comprar cortinas, uma camisa mais bonita, uma magica nova, um sapato mais transado… Enfim, penso em meu show “234 horas por dia”, quero dizer, sempre. Alguns podem me chamar de exagerado, mas, é assim que funciona para mim: exagerando.

Quando me formei no SENAC (como ator), larguei o meu trabalho na gràfica e decidi viver com arte. Tinha 19 anos e era totalmente irresponsàvel. Na gràfica, chegava todo dia atrasado e sempre tinha uma desculpa diferente: “Fui assaltado!!!”; “Meu ônibus quebrou!” (e o patrão sabia que eu não precisava pegar ônibus).

Minha familia? “Matei” todo mundo: pai, vò, vô, tios… Até o dia que comecei a “matar as mesmas pessoas”. Meu patrão na época, (o Waldemar), me perdoou todas as vezes. Não sei porquê, mas ele confiava em mim. Eu até era talentoso no que fazia, (desenhos graficos e todo tipo de propaganda publicitària), mas era totalmente irresponsavel no quesito responsabilidade.

MILHO BAUNILHA - Momento Careca

Saì da gràfica para trabalhar na “Cia do Riso”. Eu era o “tio Faxinha”: tinha que proporcionar gincanas e brincadeiras para as crianças. Gincanas ja pré-estabelecidas pela empresa. Nesse emprego eu fiquei um ano e meio. Ganhava 50 reais por festa. Se eu fizesse o “homem-robô” (com purpurina por todo o corpo), ganhava 100. Me lembro que, enquanto passava purpurina no corpo, pensava: “um dia tudo isso valerà a pena”. E quando chegava na “casa de mamãe”, (pois nessa época morava com ela), escutava milhões de gritos por conta da sujeira purpurinada que deixava pela casa. Nessa hora, o “orgulho adolescente” pensava:  “um dia tudo isso valerà a pena”. 

Um ano e meio. Explicando melhor, esse foi o tempo que trabalhei na “Cia do Riso”.

Nessa época, o Mcdonald’s da avenida Jaguaré procurava um recreador. E a “Cia do Riso”, (que prestava serviços para o Mc), nunca tinha posto um cara responsàvel e altamente profissional até minha entrada. Ah! Vai! Até tive pequenos vacilos de horàrio, mas nem se comparam aos da gràfica porque eu  amava estar ali, mesmo que fosse para fazer esculturas nos balões ou maquiar as crianças. Comecei como “tio Faxinha” e em pouco tempo fui adaptando ao/o meu jeito de fazer. Comecei a parar de fazer balões e maquiagem…

Um dia me maquiei… Eu era o Palhaço MILHO BAUNILHA!!! 

MILHO BAUNILHA, o Palhaço

Yes! Que felicidade! Sò faltava colocar o nariz. E… Apareceu o “dono do Mc”. Chegou, me chamou no canto e disse: “Você é um excelente profissional, disso não tenho dùvida. Posso até te dizer que você é muito melhor do que os Ronald’s que vêem aqui. Entretanto, não pode ter Palhaço com nariz de Palhaço numa franquia Mcdonald’s. Prometi que não iria mais colocar o nariz. Mas perguntei antes dele ir embora: “Não coloco o nariz, mas posso pintar? Ele respondeu que sim. Naquele exato momento eu estava ganhando uma oportunidade de ouro, pois tudo, absolutamente tudo que aprendia em cursos de Palhaço e afins, punha em pràtica no Mc: improviso, jogo cênico, criação de històrias, malabares, circo…. Absolutamente tudo.

Fui feliz em diversos momentos. Em outros, (milhões), fracassei.

Inventei o “Improvisando no Mc”: enquanto a galera comia, eu improvisava historias e cenas com temas que ela (a galera) havia sugerido. A frase que mais ouvia era: “você quer uma batata?” A frase que eu mais falava era:“continuem suas refeições pois sou o novo gerente e estou verificando se os senhores estão comendo bem. E pelo visto não.”

Mas, mesmo com o diploma e diversos cursos e acabando de entrar na escola de circo, eu ainda não me considerava bom. Mesmo quando alguém vinha e me dizia, eu não acreditava. Leonino e perfecionista que sou, nunca escutei um elogio e o deixei transformar minha maneira de pensar. Minha frase sempre era: “ainda não està bom.”

Atacando de Chaplin em evento no começo da carreira

Ganhava 480 reais. Trabalhava todos os finais de semana e tinha a semana para frequentar a escola de circo. Essa custava 800 reais por mês. E meu primeiro filho estava na barriga da mãe. Não era a toa que ela não confiava em mim. Eu dizia que, como tinha acabado de me formar, precisava viver com o que amasse e que ela não poderia pedir para que eu escolhesse a arte ou ela porque se eu a escolhesse, e um dia ela me largasse, eu seria duplamente frustrado. Escutei assim: “Se você fosse um homem de verdade, pararia esse negòcio de circo e teatro e escolheria sua famìlia.” Parei 10 segundos e respondi: “Se você me amasse de verdade e quisesse minha felicidade, jamais me pediria uma coisa dessas.” Bom pelo menos posso afirmar com absoluta certeza que não sou, em nenhum sentido, frustrado.

(dica): Nunca mexa com o EGO de um artista! Pode parecer frescura, mas ele farà tudo para dar a volta por cima.

Foi assim, sem entrar em mais detalhes de sofrimento, (porque eu a amava mais que minha pròpria vida), que terminamos.

E era nessa vida cheia de problemas e na busca incessante de ser um artista e ser humano melhor, que tudo ia mudar.

Angel Andricain, um cubano careca e narigudo [ ;o) ] estava disposto a me ajudar. Ele era meu treinador de acrobacias, parada-de-mãos e trampolim na escola de circo. Me ensinou que a preparação fìsica era a chave para conseguir tudo. “Tudo que você quisesse executar enquanto artista-atleta, o segredo estava em preparar-se fisicamente”, dizia ele. Não sei porque, mas isso pra mim foi revelador. Quero dizer que acreditei nesse cara como um louco. E vi, pouco a pouco meu corpo me dar excelentes presentes.

Mas de novo comecei a ter problemas com horàrios. Cheguei a perder aulas e faltar muitas vezes no primeiro ano no CEFAC (Centro de Formação Profissional em Artes Circenses).

Mas, para esses problemas tenho uma otima justificativa. Na verdade vàrias. :o) Entretanto, o atraso não é aceitàvel. “Mesmo que sua mãe morra, você deve cumprir seus compromissos!” Escutei essa milhões de vezes. Hoje até concordo.

A vida sempre foi dura comigo quanto aos atrasos, quanto aos horàrios. E por mais que eu quisesse chegar na hora, sempre tinha um problema. Para a escola de circo era simples: o CEFAC era na zona sul, Vila Madalena. Eu morava na Zona Norte, Vila Maria Alta. As aulas começavam as 8 da manhã. Eu acordava as 5 para sair 5 e meia e pegar o ônibus das 6 e sofrer duas horas de viagem em um ônibus sem espaço para sentar e dar uma famosa“dormidinha”. Sem falar que sempre tinha trânsito. Não entendia São Paulo. Era um caos!!! Chegava ou em “cima da hora” ou atrasado. E quando chegava atrasado, “o careca” me mandava voltar pra casa. “Ô vidinha mais ou menos!” (pensava)

O Angel foi chamado para ser diretor técnico, (aquele que cria as performances artìsticas tecnicamente, ou seja, os movimentos acrobàticos que serão utilizados em um nùmero), de um espetàculo do Circo Roda Brasil. Ele chegou para mim e perguntou: “Cara, você quer trabalhar là?” Esse foi um dos momentos mais lindos de toda minha vida! Chorei, gritei, agradeci e corri. Sei là, quando estou contente, gosto de dar uma volta correndo no quarteirão. O que foi? Cada um tem seu estilo de comemoração. Ora bolas!

O curioso é que dois anos antes,  fiz uma audição para esse circo e nem pensava em fazer circo. Apresentei um nùmero de dança… Foi péssimo!!! Ahahhahaha!!! Mas quem diria que anos depois eu iria protagonizar um espetàculo no mesmo circo que me disse não uma vez. Mas, não foi bem pelo meu talento que eu consegui o papel principal: com uma semana de ensaios, estava eufòrico e a todo vapor. Via o nìvel dos outros artistas e queria mostrar trabalho. Na época, “double mortal para tràs” ainda era um problema para mim. Resultado: com uma semana de ensaio para o espetàculo e tentando fazer o tal “double”, caì de cabeça no ferro da cama elàstica e quebrei 4 vértebras. Ai! (lembrando)

Estava fora. Não conseguiria me recuperar a tempo para os ensaios e exercer a função de acrobata. 

Espetaculo Oceano

Depois de  três meses de molho e com aquele “negòcio horrìvel”, (colar cervical), no pescoço, “me recuperei”. Entretanto, não poderia fazer nada fìsico até a ordem dos médicos. Logo, me sobrou o papel do menininho que perde o seu patinho de borracha. Mas como diria o refrão: “Hà malas que vão para Belém.”, digo “Hà males que vêem para o bem.”

Ganhei a chance de mostrar o meu talento enquanto ator. Engraçado era que, pouco a pouco criava um certo desconforto com os outros artistas: novo, sem experiência no circo e mandando bem nos espetàculos, meu personagem começou a ser, para alguns, mais importante que muitos nùmeros. Nem preciso dizer que isso acarretava uma certa invejinha. Tinha aprendido que, em casos assim, quando ia dar uma entrevista ou falar com alguém do pùblico, jamais dava mérito sò pra mim. Sempre dizia que eu não existiria como personagem caso os outros artistas não existissem enquanto acrobatas maravilhosos que eram.

Mas, eu não queria ser sò personagem. Queria evoluir. Queria mais. “Ainda não està bom”, pensava.

Quando o médico me liberou para fazer exercìcios, como um louco treinei, treinei, treinei… Dormia tarde treinando. Acordava cedo para treinar. Entrei numa academia de ginàstica olìmpica. Não estava satisfeito comigo. Nunca estive. Queria mais porque sabia que podia dar mais.

Para minha “sorte”, um espetàculo circense é muito rotativo: é um que se quebrou; é outro que torceu; a outra vai sair porque tem uma proposta melhor… Enfim, “zilhões” de coisas.

Numa das reuniões, propus que poderia entrar no mastro como menininho e participar da història brincando com os caranguejos no nùmero de mastro chinês.

Foram 6 longos meses de espera.

Artistas iam. Artistas vinham. Meu personagem crescia. O que ouvia na saìda do pùblico, (pois ìa para tirar fotos), era que o espetàculo não seria o mesmo sem mim e que eu “costurava” a història como ninguém. Mas para mim, “ainda não estava bom”.

Foram muitos espetàculos. Cada um diferente. Em todos, mesmo com os milhões de problemas internos, me doei como nunca, por completo. Sempre fui generoso e nunca hesitei em dar o meu  màximo a cada espetàculo. Mal sabia eu que estava criando um monstro… ;o) o Monstro da EXCELÊNCIA!

Sei que o passado é muito bacana pois explica o presente. Por isso, antes de ir para a “Festa da Mùsica” em Paris, preciso rapidamente dizer que comecei a apresentar espetàculos nas praias do Rio de Janeiro. Estava cansado de ter que fazer audições e esperar a boa vontade de patrões para dar ou não uma oportunidade de emprego (nessa época o Circo Roda Brasil dispensou todos os seus artistas sob o motivo de fim do projeto).

Me sentindo um lixo, sem emprego e com a auto-estima “là em cima”, sò conseguia pensar em uma frase: “ainda não està bom, mas vai melhorar”.

Fui para a rua sem nada. Como Palhaço, tinha vergonha de passar o chapéu. E não aceitava o dinheiro das pessoas como Palhaço. Não conseguia aceitar. Para mim o Ser Palhaço é uma arte nobre. Claro que, o olhar de “ih! la vem o Palhaço pedir dinheiro” era algo que definitivamente eu não queria passar. Então, decidi usar a mesma fòrmula que me deixava tão a vontade no Mcdonald’s: pintar o nariz. Eu criava o còdigo de que era diferente e isso, naquela época, era suficiente para mim.

Comecei montando nos postes de luz da praia. Essa era minha especialidade, o mastro chinês. Como aquilo era “expressionante”, as pessoas começaram a colocar moedinhas no chapéu e comecei a entender que aquilo era um trabalho honesto.

é bom frisar que antes pensava que ser Palhaço e artista de rua eram atividades menores, sem nenhuma importância para a sociedade.
Como é bom o tempo passar!!! Como foi bom ter sido um verdadeiro idiota!!!

Pouco a pouco o espetàculo evoluiu. Também, posso garantir que jà fiz mais de 1000 espetàculos. é isso mesmo, mais de 1000!!! E tudo que você pode imaginar eu jà testei: textos, mùsicas, microfone, sem texto, com figurino, sem camisa, parando, brigando….

Pense alguma coisa… Pensou? Eu jà tentei isso também. ;o)

Mas, em contato com a Disney, (trabalhei 8 meses na “Parada Disney” logo apòs sair do Roda), aprendi a criar uma base excelente e adequar pouco a pouco à minha fação de fazer.*

*Nota do autor: Explicando: às vezes você cria ou copia alguma coisa. Eu acredito que tudo se transforma. Por isso, mesmo sendo criador, mesmo que a ideia seja sua, com o passar do tempo você é obrigado a adaptar a piada em função do pùblico ou do tempo (que sempre passa).

Parada Disney - Rio de Janeiro - Performance em Sky Runner ("perna de pau que pula")

Bem, na verdade eu jà tinha visto isso dezenas de outras vezes, mas a ficha caiu mesmo quando vi os chefões da Disney mandando, desmando e criando ao vivo. Foi lindo!

Com uma base cada vez mais sòlida saì do Brasil tentando entrar em uma universidade francesa. Como era impossìvel um artista de rua entrar numa universidade de circo, (verdade, escutei essa), fui reprovado.

Quer dizer, nem entrei. Mas, quer saber? Acho que foi uma das melhores coisas que me aconteceram. Eu queria e precisava sair do Brasil para conhecer outras formas de fazer arte e acima de tudo outros pùblicos. O que quero dizer? Explico: em Paris você encontra francês, alemão, inglês, americano, japonês, àrabe…. Cda cidadão um universo e cultura diferente. Se eu conseguisse “agradar a todos de uma vez”, estaria alcançando um bom nìvel enquanto “fazedor de arte”. Logo, sair do Brasil para entrar em uma universidade em outro paìs, nada mais foi do que um pretexto para conhecer o mundo.

Cheguei em Paris em 2010. Apresentei. Fui para o sul da França. Apresentei. Passei pelo centro. Apresentei. Hoje, estou de volta a Paris. E jà apresentei.

No domingo passado, saì para testar como seria minha “estadia na França”. Estava ou não preparado para enfrentar (de novo) uma grande metròpole?

Primeiro espetàculo em frente a um museu: George Pompidou. Posso dizer que foi ruim? Eu achei, mesmo com quase 200 pessoas. Entretanto, decidi parar o espetàculo no meio e falar mais do que dançar junto com a mùsica. Por que? Porque tinha visto um artista francês que fazia exatamente isso (Mario, Queen of the Circus). Esse cara, (o Màrio), quando viu meu espetàculo, não conseguia entender porquê eu não ganhava menos do que 100 euros em cada apresentação. Ele disse que eu fazia coisas fantàsticas mas que elas estavam mal exploradas ou colocadas, mas que o tempo me daria todas as respostas.

Nessa época eu acreditava que meu espetaculo deveria ter apresentação, numero de equilìbrios, mastro (nas lâmpadas de luz) e chapéu. Posso afirmar com “carinho” que (a dificuldade em encontrar postes para que eu pudesse adequar o nùmero de mastro chinês) + (a polìcia) + (os comerciantes que muitas vezes reclamavam da mùsica e me mandavam embora) = serviram para que eu buscasse cada vez mais uma forma de fazer menos espetàculos e ganhar mais. Não! Na verdade eu não queria mais dinheiro. Não!!! Eu sò queria apresentar menos e ganhar a mesma quantidade de grana para também ganhar tempo para fazer outras coisas, como por exemplo, treinar trampolim ou fazer preparação fìsica. Era duro demais ter que andar mais de uma hora com toda a “bagagem artìstica” para saber que eu não poderia apresentar meu espetàculo porque, por exemplo, jà tinha um outro artista em “meu ponto” ou porque a polìcia jà estava por là.

Mal sabia que tudo isso estava me transformando.

No caminho para apresentar, eu pensava milhões de coisas. Pensava o espetàculo, minha vida, minha famìlia… Era muito doloroso… Por muitas vezes chorei.

Quando cheguei a Paris essa semana e depois de apresentar e tentar falar mais no show, percebi que tinha encontrado a solução. Não era sò isso: eu tinha crescido artisticamente e nem sabia.

Em minha singela modéstia, tentei me apresentar em um lugar pequeno, onde sabia que iria ficar apertado, mas que pelo menos algumas pessoas iriam parar também. Resultado: foi um verdadeiro inferno para a polìcia: as pessoas começaram a tomar conta da rua e o que era pra ser um pequeno espetàculo foi um “grande evento”, (pelo menos para mim). Pensei: “Peraê! Ta na hora de alçar vôos maiores. Não sou mais aquele pequeno amador do começo. Agora eu tenho bagagem e posso segurar o pùblico comigo. O tempo que EU quiser.

E comecei a andar, (agora com minha bicicleta e meu carrinho de transporte), por Paris.

Fui nos pontos onde sabia que, se mandasse bem, poderia fazer uma boa grana. “San Michel”, uma fonte muito visitada, foi a bola da vez. Três espetàculos impecàveis. Piadas bem colocadas e o “felling” para segurar o pùblico. Ou seja, automaticamente começou a acontecer?

Não!!! Sofri muito para chegar até aqui e entender que, desde o chegar até o preparar das coisas, você  jà està em cena!!!
Me perguntava: “como os caras conseguiam não fazer nada e segurar o pùblico?” Esse é o segredo: não fazer nada fazendo tudo!!!

é complicado, mas tentarei explicar dando como exemplo meu show.

Quando chego com a bicileta, ja toco muitas vezes minha buzina. Alguns que estão passando sempre olham o Palhaço para dizer um “oi”. Preparo “despreparando” os objetos que serão usados na cena, ou seja, tiro da esquerda para por na direita para depois colocar na esquerda de novo. Não importa o que você faça, se você acreditar que o que faz tem sentido, para o pùblico também terà.

Ensaio do figurino em Paris

Com minha mão de borracha, começo um diàlogo em voz alta onde o chamo de DJ. Là, digo que ele tem que colocar a mùsica ràpido, afinal, o pùblico jà està esperando. “DJ” demora. O pùblico começa a querer o show. Então lanço  a pergunta: “Vocês querem James Brown ou James Brown?” Isso arranca pequenos risos. Pronto! é o suficiente para que alguns outros comecem a parar também.

Fixe-se em uma pessoa. “Jogue” com ela. Seja simpàtico. Se ela aceitar a brincadeira e ficar, tenha certeza de que outros pararão. Se ela for embora, recomece com outra pessoa.

Quando a mùsica começa, muitos param sò pra ver eu colocar uma corda no chão. Não é que eu não faço nada. Simplesmente as ações têm um tempo diferente num espetàculo. Num espetàculo de rua é ainda mais diferente, OU MELHOR, ESPECIAL. O tempo de uma ação na rua està entre o tempo de uma ação do circo e o tempo de uma ação do teatro: não pode ser tão ràpido e ao mesmo tempo nem tão lento. Mas como jà disse outras vezes, é dificìlimo encontrar esse tempo. Porém não impossìvel. Se eu pude, qualquer um pode.

Fã quase nº 1

Cheio de confiança pensei: “não tem mais um lugar que eu não faça bem meu show. Sempre, sempre terei o pùblico comigo. Sempre vou ganhar atenção porque tenho um bom show em mãos, engraçado e acrobàtico.” Não é presunção, é o resultado de muuuuuuuuito trabalho. E aceitar isso me/te coloca num patamar diferente. Um patamar de verdadeiro profissional que pode trabalhar pouco e ganhar um pouco mais. Excelência. Essa é a qualidade a buscar sempre.

Mas, mesmo com toda essa excelência sendo alcançada, não posso deixar de mencionar que a rotina que irei descrever a seguir, proporciona uma incansàvel vontade de vencer e melhorar sempre:

Segunda-feira: 2 horas de equilibrios; 2 horas de mastro chinês; 2 horas de trampolim; 1 hora de mão-a-ão;

Terça-feira: 2 horas de equilibrios; 2 horas de mastro chinês; 2 horas de trampolim;

Quarta-feira: 2 horas de equilibrios; 2 horas de mastro chinês; 2 horas de trampolim;

Quinta-feira: 2 horas de equilibrios; 2 horas de mastro chinês; 2 horas de trampolim; 1 hora de mão-a-ão;

Sexta: espetaculos;

Sàbado: espetaculos;

Domingo: espetaculos.

NOTAS:

*No verão europeu, (julho e agosto), sem treinamentos e espetàculos todos os dias, com folga às segundas-feiras;

*A preparação fìsica jà não é feita tanto como antes tendo em vista que o mastro chinês e os equilìbrios são feitos em sua base com exercìcios de força. Logo, as preparações ganharam outro formato, mas continuam sendo feitas.

Não é porque encontrei uma boa forma de apresentar meu show que vou me acomodar. Talvez um pouquinho? Sim. Por que? Porque talvez agora eu terei tempo para me concentrar ainda mais em meus outros nùmeros.

Ah! Exporadicamente eu treino malabares com bolinhas. Muito em breve, estarei jogando 5 bolas. Mais uma vez, isso é questão de tempo…

Para terminar, o mais maravilhoso aconteceu diante da prefeitura e palàcio da justiça de Paris.

Eu perguntei a um policial se poderia apresentar meu show, jà que era festa da mùsica, do outro lado da rua, perto da prefeitura.

Ele, muito gente boa e educado, disse que não via nenhum problema e em um caso extremo, o màximo que poderiam fazer, (outros policiais do outro lado da rua), era pedir para que eu saìsse de là. Agradeci, atravessei a rua e apresentei. Quando terminei os policiais estavam me aplaudindo do “lado de cà”. Fiquei encantado com a cena e antes de ir embora decidi atravessar a rua para agradecer. Agradeci e eles me perguntaram: “Ei, porque você não apresenta aqui desse lado?” Ele estava se referindo ao “palàcio da justiça”.

“Caguei mole” mas fiquei completamente excitado e disse que sim. Ele alertou que eu deveria somente fazer em frente ao segundo portão jà que por ali não iriam passar carros.

Era uma calçada grande. Outra vez as pessoas acabaram ocupando quase toda a rua. Sò que dessa vez, não tinha nenhum policial para me impedir, pelo contràrio, tinha policial e pùblico de sobra para me aplaudir.

4 Comentários Add yours

  1. lau diz:

    Raúl me ha encantado tu foto d “figurinho ” en París 🙂

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  2. Fala Raul…

    cara, posso dar uma sugestão?
    tente escrever textos menores, mais curtos… divida como se fosse partes 1, 2, 3… seria melhor! às vezes a gente se perde na linha de raciocínio e quando surge algo para comentar já se esqueceu por que está em outra parte… mas enfim.

    Só vou comentar uma coisa:
    eu trabalhei para uma empresa que fazia a animação do “Ronald e sua turma” [sic], tinha Ronalds horríveis? simmm… sure.. mas verdade seja dita: o problema era a base do “show” que era horrível… os atores Ronalds tinham que seguir um roteiro com todas as diretrizes… era um lixo.
    Mas enfim…

    boa sorte e sucesso aí.

    abç.

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    1. Boa ideia Suga.

      Quando comecei a escrever esses textos, imaginei uma espécie de livro onde, sò leriam as pessoas que estivessem realmente interessadas no assunto. Entretanto, seguindo sua sugestão, posso dividi-los em partes tornando-o mais agradàvel aos leitores.

      Mais uma vez obrigado pela sugestão e obrigado por se inscrever em nosso site.

      Grande abraço

      MILHO BAUNILHA

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